Textos

Stillborn

Estava prestes a acontecer. Ele estava preparado, ansioso, sabia que chegara o momento. Aos poucos, foi saindo. Enfim! Depois de tanto tempo martelando e tentando e incomodando, parecia que finalmente viria a existir! Pedaço por pedaço, foi entrando na realidade, mesmo em se tratando de uma realidade menor... cada parte efêmera que forma o conjunto se juntando, um grupo de idéias ambiciosas, quase um poço de arrogância, mas lá, existindo, que era tudo que queria. Quando já alcançava o que considerava ser metade de si, já existindo, fora da caverna escura de onde tentava sair, emaranhado e sufocado por outros que também lutam por existir fora dessa espiral de perdição, hesitou. Hesitou, e foi então que percebeu que falharia. Os pedaços começaram a sair mais lentamente, os outros combatentes emaranhados começaram a puxá-lo de volta, o arrependimento foi mais forte. Em poucos instantes, parou de sair, e em seguida, num piscar de olhos, deixou de existir, e se recolhou quieto e assustado, ao fundo da caverna. Viu, choroso, que um outro conseguia existir em seu lugar, e somente porque ele havia tentado. E viu que era bonito, melhor que ele. Existe agora por conta dele, que está lá, escondido, chorando. Na verdade, ele é mais bonito por dentro, mas difícil de existir. O que passou a existir é vazio, apenas uma superfície. Poderia contê-lo, mas ele não vê dessa forma, e espera, sozinho, agora furioso, sua vez de existir.

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