Textos

The rain brings pain

Eu abro os olhos, no meio da noite. A chuva está forte, do lado de fora da janela. É a primeira coisa que percebo. Na verdade, eu não precisava dos olhos para isso. Na verdade, eu ouvi a chuva. Olho ao redor. Estou na sala, deitado em um colchão atirado no chão. Tenho duas cobertas grossas me envolvendo (estava frio). Ao meu lado, dividindo o colchão comigo, depois da noitada de RPG, está o Gabriel. Ele também está envolto em duas cobertas, e dorme como uma pedra. Olho pela janela, e me apavoro. Do outro lado, sob a forte chuva, um homem. Ele não parece olhar para dentro da casa, mas de qualquer forma, não deveria estar ali. O portão eu mesmo tranquei. Ele usa um chapéu com aba perfeitamente circular. Não consigo distinguir cores, pois está muito escuro e chuvoso lá fora. Me afundo um pouco mais nas cobertas e observo. Depois de um tempo, outro homem surge. Esse é baixo e mais gordinho. Eles passam a conversar, e, vez ou outra, o homem do chapéu com a aba perfeitamente circular aponta para dentro da janela. Aponta para mim. Mas sem olhar para dentro. Nenhum dos dois. Eu começo a me apavorar. Então, penso que talvez eles decidam ir embora em algum tempo. Afinal, o que eles poderiam querer dentro da casa? O Álvaro dormia no quarto ao lado da sala, junto de sua filha Helena. Enfim, consegui me controlar. Eles continuavam conversando. Então, surgiu um terceiro homem. Ele era enorme. Assutadoramente enorme. Cumprimentou os dois outros. Eu tremia sob as cobertas. O grandalhão subitamente se virou para a janela. Ele estava olhando diretamente para mim, e rindo. Não sorrindo, mas RINDO. E eu pude ver seu rosto através do vidro. Ele era extremamente feio, e gotas e mais gotas de água escorriam de seus cabelos. Ele parecia estar derretendo. Ele observava-me e ria. Eu perdi completamente o controle de minha bexiga, e molhei tanto minha calça quanto as cobertas e o colchão. Ele ria e olhava para mim. Os outros dois continuavam com sua conversa. Depois de um tempo, ele, ainda rindo, começou abrir a janela pelo lado de fora. Eu comecei a chorar. Agarrei com força o braço do Gabriel, e tentei gritar. Tudo o que eu ouvi saindo da minha boca soou como "Fffff... Ffffffff.... Ffffffff... Ffffff...". O grandalhão abria lentamente a janela. O Gabriel soltou-se de minhas mãos, sem acordar, e virou-se, dando continuidade a seu sono. "Fffff.... Fffff... Ffffff... Ffff..."

Eu já podia escutar os sons produzidos pela conversa dos outros dois, mas não conseguia entendê-la. O grandalhão ainda ria enquanto concluía seu trabalho.

"Fffffff... Fffff... Fffffff"

Um pouco mais de urina.

Ele inclinou seu corpo em direção à janela e colocou a cabeça para dentro.

Eu desmaiei. E (nunca mais) acordei...

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