Textos

Bloqueio

Ele estava sentado à frente de seu lap top. Os fones de ouvido enchiam sua cabeça de Iron Butterfly. Queria uma idéia brilhante para publicar em sua pequena página na internet. Uma daquelas que causasse espanto no público em geral. Mas ele sabia que nada viria. Pensou em publicar letras. Fez uma pequena seleção das suas letras favoritas, editou algo como um poema com os melhores trechos. No fim, parecia só um poema de choradeira pela mulher perdida, com alguns socos e um 666 no final. Lixo. Tentou escrever um texto sobre futebol, afinal, seus times favoritos jogariam logo mais. Nada. Futebol não impressiona ninguém. Quer dizer, ele até pensou em contar mais uma vez a história da final da copa de 1954, que é realmente bacana, mas desistiu, por sentir-se fanático demais. Tentou escrever um texto de amor. Sentiu-se meio chorão e desistiu também. Começou a achar que não teria nada a publicar... e não há nada de errado nisso. Aí ele tentou se lembrar de como seus autores favoritos resolviam o bloqueio de criatividade. Poe... Lovecraft... King... enquanto pesquisava sobre o assunto, o inesperado ocorreu. De dentro de seu armário, um som estranho se repetia. Abriu, esquecendo temporariamente sua falta de criatividade e sua pesquisa. Foi o maior erro de sua vida. De dentro do armário, uma criatura mais antiga que os deuses saltou, agarrou-se ao seu pescoço e estraçalhou-o. As garras acinzentadas cortavam carne, dilacerando tecido e órgãos. O choro abafado, ninguém o ouvia. Tentou gritar, mas a criatura era rápida demais... O inferno estava em seu quarto, saído inexplicavelmente de seu armário. Em poucos instantes, o quarto estava pintando em vermelho, e aquele último texto jamais seria escrito.

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